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A ilha de Macau tornou-se o maior mercado de casinos do mundo e é muitas vezes referida como a “Las Vegas da Ásia”. A ilha, situada mesmo junto ao continente chinês, é o único mercado de casinos legalizado na China e atrai jogadores ricos tanto do continente como de outras partes da Ásia.
No entanto, o foco de Macau no jogo poderá vir a mudar nos próximos anos. Uma desaceleração significativa nas receitas do jogo levou os líderes Chineses a repensar a aposta da ilha nos casinos, e alguns defendem a diversificação da economia.
"Neste momento, a situação geral em Macau é estável, mas o ambiente interno e externo está a passar por mudanças profundas", afirmou o Presidente chinês Xi Jinping durante uma celebração em dezembro que assinalou 25 anos de administração chinesa. "Devem ser feitos esforços para promover uma diversificação económica moderada... concentrando-se no cultivo de novas indústrias com competitividade internacional."
História de Macau
Macau fez parte da China até ao século XVI, mas Portugal começou a arrendar a ilha como entreposto comercial em 1557, servindo como ponto estratégico para os mercadores que navegavam do Ocidente para o Oriente. Com o tempo, Portugal passou a tratar a ilha como uma colónia de facto, até chegar finalmente a um acordo com a China em 1887, que oficializou Macau como território português.
Após Hong Kong se tornar território britânico em 1842, essa ilha assumiu maior importância comercial. Em resposta, Macau legalizou o jogo em 1847 e a indústria prosperou na ilha, tornando-se uma fonte essencial de receita.
“Na década de 1850, Macau tinha mais de 200 bancas de fan tan [um jogo de apostas chinês] em funcionamento”, observa a Associação de Especialistas Certificados em Conformidade no Jogo. “A indústria do jogo começou a prosperar no final do século XIX e os impostos sobre o jogo tornaram-se a principal fonte de receita do governo. Desde então, Macau passou a ser amplamente reconhecida pela sua indústria de casinos, ganhando a alcunha de ‘Monte Carlo do Oriente.’”
Ao longo de grande parte do século XX, várias empresas receberam concessões monopolistas para explorar casinos em larga escala, com a Assembleia Legislativa a declarar numa lei de 1986 que “o número de concessões atribuídas será limitado a um máximo de três.” Apesar disso, o jogo clandestino manteve-se e, na década de 1990, a ilha foi palco de confrontos entre gangs rivais que disputavam esse mercado ilegal, resultando em mais de 100 mortos.
Essa abordagem monopolista ao jogo mudou depois de a ilha ter sido oficialmente devolvida à China em 1999. A região passou a ser tratada como uma Região Administrativa Especial (RAE), de forma semelhante a Hong Kong - uma política de “um país, dois sistemas.”
Em 2001, a ilha aprovou novas leis para expandir a indústria, permitindo a entrada de vários operadores de casinos e o desenvolvimento de grandes resorts de jogo.
Macau e o Jogo de Casino
Depois de aprovar uma lei para concessões de casinos, Macau recebeu propostas de grandes operadores de jogo de todo o mundo, incluindo gigantes norte-americanos como a MGM Resorts, a Las Vegas Sands e a Wynn Resorts, bem como empresas asiáticas como a SJM Holdings e a Galaxy Entertainment Group.
Diversos resorts de casino começaram então a ser construídos na ilha ao longo dos anos 2000, atingindo um total de 42 casinos em 2021. Os jogadores podiam facilmente experimentar as slot machines ou praticar a sua estratégia roleta. O jogo não foi apenas um benefício para a ilha, mas também para a economia chinesa no geral.
Em tempos uma ilha tranquila, Macau sofreu grandes mudanças nos últimos 25 anos e tornou-se um importante destino turístico. A indústria dos casinos levou a economia de cerca de 6,5 mil milhões de dólares em 1999 para 46 mil milhões em 2023, de acordo com a Associated Press. Muitos residentes encontraram emprego no setor e outros beneficiam dos pagamentos anuais de 1.240 dólares feitos aos habitantes a partir dos impostos sobre o jogo.
No entanto, a situação piorou bastante durante a pandemia de COVID, quando a China restringiu as viagens para a ilha. As receitas secaram quase da noite para o dia. As autoridades chinesas também começaram a apertar o controlo sobre os operadores de excursões de jogo, que prestam serviços a grandes apostadores ricos do país.
Os jogadores nestas excursões utilizam regularmente fundos emprestados para apostar e depois reembolsam esses empréstimos na China continental. O setor tem sido alvo de maior escrutínio nos últimos anos. As autoridades chinesas alegaram que alguns operadores se envolveram na exploração ou até na propriedade de parte de casinos no estrangeiro, fora do país.
Retoma das Receitas Após o COVID
As restrições de viagens e às excursões de jogo levaram a uma queda significativa nas receitas e a indústria enfrentou grandes dificuldades. As coisas começaram finalmente a mudar em 2023. Em dezembro desse ano, a ilha registou receitas brutas de casinos no valor de 2,3 mil milhões de dólares, um aumento de 433% face a dezembro de 2022, segundo o Gabinete de Inspeção e Coordenação de Jogos de Macau.
Isto representou o segundo maior total da indústria desde antes da pandemia de COVID e marcou o início de um lento regresso à normalidade.
Em dezembro de 2024, a indústria de casinos de Macau contabilizou 28,4 mil milhões de dólares em receitas de jogo, um aumento de quase 24% em relação a 2023. Foi outro sinal positivo, já que superou as estimativas do governo, que apontavam para cerca de 27 mil milhões.
Ainda assim, esse valor ficou aquém do nível pré-pandemia de 36,5 mil milhões alcançado em 2019. A pandemia demonstrou até que ponto a ilha, com pouco mais de 700.000 habitantes, se tinha tornado dependente do jogo, levando o governo chinês a avançar com planos de mudança.
Transição da Economia
A primeira parte desse processo foi a chegada de uma nova liderança na ilha. O antigo juiz Sam Hou Fai foi eleito, sem oposição, como chefe do executivo designado de Macau em 2024, tornando-se o primeiro líder da ilha nascido na China continental. Fai está determinado a diversificar a economia de Macau.
O novo líder espera fazê-lo através da melhoria das condições gerais de negócio e do apoio às pequenas empresas, incluindo a utilização de fundos públicos para estimular setores fora do jogo.
“Sam prometeu acelerar o plano do atual governo para impulsionar o turismo e outros setores como a medicina tradicional chinesa, as finanças, as feiras e o comércio”, refere a Associated Press. “No entanto, a cidade continuará a ter de depender da indústria do jogo para gerar receitas fiscais que sustentem o sistema de apoio social e permitam alcançar outros objetivos definidos por Pequim.”
Xi já afirmou que Macau deve reduzir a sua dependência da indústria dos casinos, que representa cerca de 80% das receitas fiscais regionais.
“De momento, a situação geral em Macau é estável, mas o ambiente interno e externo está a passar por mudanças profundas”, disse Xi. “Devem ser feitos esforços para promover uma diversificação económica moderada… concentrando-se no desenvolvimento de novas indústrias com competitividade internacional.”
Contudo, a indústria do jogo continuará a ser uma parte importante do futuro da ilha. Cada vez mais jogadores chineses continuam a afluir a Macau, mas relatórios recentes indicam mudanças no perfil dos frequentadores dos casinos. No período pós-COVID, as propriedades passaram a depender mais de jogadores de rendimento médio do que dos grandes apostadores de elevado poder económico. Mas alguns desafios ainda persistem para a indústria do jogo da ilha.
“Num relatório, os analistas Praveen Choudhary, Gareth Leung e Stephen Grambling (da Morgan Stanley) afirmaram que mantêm a sua previsão de receitas brutas de jogo em massa (GGR) nos 118% dos níveis de 2019, o que representa um aumento de 5% face a 2024”, refere a Inside Asian Gambling, “mas esperam um EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) inferior ao inicialmente previsto devido ao aumento dos custos de reinvestimento, incluindo em despesas de capital não relacionadas com o jogo, ao abrigo dos atuais contratos de concessão de 10 anos dos operadores.”
As perspetivas para Macau desde a pandemia são claramente positivas. Os analistas projetam um “crescimento ligeiro mas constante” para o resto do ano.
