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Atualizado a 2 de Setembro de 2025
Muito antes de ter sido presidente dos Estados Unidos ou de ser apresentador de um reality show, Donald J. Trump era visto como o salvador de Atlantic City devido aos seus planos de dar nova vida aos casinos e hotéis da cidade. 30 anos depois, alguns dos seus comportamentos e decisões têm sido alvo de críticas desde que foi eleito presidente pela primeira vez em 2016, e as suas controvérsias continuam a multiplicar-se durante o seu segundo mandato presidencial iniciado em 2025.
Os Primeiros Passos no Imobiliário de Nova Iorque
Trump nasceu em Nova Iorque e cresceu no ramo do imobiliário. Ele aprendeu em primeira mão com o seu pai, Fred, na empresa da família, Elizabeth Trump & Son. Depois de se formar em Economia pela Wharton School da Universidade da Pensilvânia em 1968, trabalhou a tempo inteiro e herdou a empresa em 1971, tendo quase imediatamente alterado o seu nome para The Trump Organization.
Enquanto o seu pai se concentrou em arrendamentos para rendimentos médios nos bairros periféricos da cidade de Nova Iorque, Trump mudou a sede da empresa para Manhattan para assumir projetos maiores. O seu nome foi notícia pela primeira vez em 1973, quando ele e o pai foram acusados de traçar perfis raciais de possíveis inquilinos em algumas das suas moradias no Brooklyn e em Queens. Os Trump contra-processaram e o caso foi arquivado em 1975.
Trump assumiu vários projetos de alto nível em Nova Iorque, incluindo transformar o Commodore Hotel no Grand Hyatt, estabelecer a Trump Tower e reconstruir a pista de patinagem no Central Park no início dos anos 1980. À medida que o seu império crescia, ele começou a envolver-se noutros empreendimentos, como licenciar o seu nome para coisas como jogos de tabuleiro e comprar uma equipa da United States Football League, concorrente da NFL.
Trump Entra no Mundo dos Casinos
A New Jersey Casino Control Commission concedeu a Trump uma licença de casino em Março de 1982, quando ele começou a adquirir terrenos no famoso Boardwalk de Atlantic City. O processo foi notável, pois a comissão emitiu uma licença imediatamente após uma audiência de duas horas, quando normalmente levaria meses.
O seu primeiro empreendimento foi como sócio do Harrah’s, que pagou pela construção. Chamado Harrah’s at Trump Plaza, era o 10º casino em Atlantic City e abriu em Maio de 1984. Trump era frequentemente visto no casino acompanhado de celebridades, mas o projeto de $220 milhões era apenas um sinal do que estava por vir.
Trump decidiu dispensar parceiros na indústria hoteleira quando comprou um hotel quase concluído numa marina de Atlantic City, apenas um ano depois. Adquirido à rede Hilton, a nova propriedade chamava-se Trump’s Castle Hotel & Casino. Isto irritou o Harrah’s, que alegava que dois hotéis com nomes tão semelhantes confundiriam os clientes; mas a reclamação não foi sustentada em tribunal. No seu típico estilo, Trump chegava ao hotel a bordo do seu iate de quase 300 pés sempre que visitava a cidade.
Após este desacordo, Trump comprou o Harrah’s, tornando-se proprietário de dois casinos; o terceiro seria considerado uma obra-prima do design e uma bomba financeira.
O Taj Mahal: A Jóia da Coroa Que Se Tornou Pesadelo
Não era apenas Trump que estava entusiasmado com o desenvolvimento de propriedades em Atlantic City. Merv Griffin, mais conhecido como apresentador e produtor de talk shows da TV, também era um empreendedor de sucesso, e a sua Griffin Gaming & Entertainment Company ia de vento em popa no final dos anos 1980. Quando a empresa dedicada aos casinos e hotelaria Resorts International, considerada uma das fundadoras do cenário de jogos de casino em Las Vegas começou a vacilar devido ao aumento da concorrência, Trump e Griffin deram tudo para assumir o controlo da empresa.
Foi feito um acordo entre as três partes que deu a Griffin os casinos da marca em Atlantic City e Bahamas, enquanto Trump ficou com o projeto parado do Taj Mahal em 1988.
O Trump Taj Mahal Casino Resort foi inaugurado a 2 de Abril de 1990, com mais de 75.000 pessoas presentes na cerimónia de luxo, que incluiu uma rara performance de Michael Jackson. O casino de 1000 milhões de dólares era visto como a jóia da coroa de Atlantic City, atraindo visitantes de todo o mundo nos seus primeiros meses. As centenas de slots iluminadas, as mesas luxuosas de roleta... tinha tudo para dar certo. Mas pouco mais de um ano depois da sua inauguração, o casino foi forçado a entrar em falência (Capítulo 11).
Ele abriu-o [o casino] num momento que, em retrospetiva, foi cataclismicamente mau”, disse Steven P. Perskie ao The Boston Globe. Perskie era ex-presidente da Comissão Estadual de Controlo de Casinos e teve muitas negociações com Trump. “Em meses, senão semanas, ele foi atingido por uma recessão nacional, que tornou o Taj Mahal economicamente inoperante.
A recessão, saturação de casinos em Atlantic City e legalização do jogo em Estados vizinhos foram os maiores fatores na necessidade de reorganização. De acordo com o Capítulo 11 da falência, uma empresa pode permanecer operacional enquanto os acordos financeiros são acertados com os credores. Como parte do acordo, Trump concordou em limitar gastos pessoais e vendeu o seu iate e companhia aérea em expansão.
As Quatro Falências dos Casinos Trump
A recessão em Atlantic City continuou, e menos de um ano após o pedido de falência do Taj Mahal, Trump foi forçado a declarar falência (Capítulo 11) nas suas duas primeiras propriedades, o Trump Plaza e o Trump Casino. A reestruturação funcionou durante vários anos e, em 1995, Trump estabeleceu a Trump Hotels and Casino Resorts (THCR) como uma empresa de capital aberto.
A THCR assumiu o controlo do Trump Plaza e comprou o Trump Taj Mahal um ano depois. Sentindo recuperação económica, a THCR desenvolveu um casino em Indiana e construiu um novo casino, Trumps World’s Fair, em Atlantic City, em 1996. Esse casino fechou três anos depois, com planos para construir um grande resort nos mesmos terrenos.
O regresso de Atlantic City àquilo que fora outrora nunca aconteceu e, em 2004, a THCR foi forçada e entrar em falência, mais uma vez, para reestruturar a sua dívida. Trump reduziu a sua participação de 56% para 27% e a empresa foi rebatizada de Trump Entertainment Resorts (TER).
A TER vendeu o seu casino em Indiana em 2005 e descartou todos os seus planos de desenvolvimento. Em 2007, a empresa procurou ser adquirida, mas sem sucesso. Apesar dos cortes nos seus hotéis e casinos, a empresa declarou falência pela quarta vez em 2009, poucos dias depois de Trump ter renunciado ao cargo de presidente do conselho, e a sua participação acionária na empresa ter sido reduzida para 10%. Ele nunca mais foi parte ativa de empresas de casinos. Nos seus vários destinos durante a campanha para as presidenciais de 2016, Trump explicou aos seus apoiantes que ele, pessoalmente, nunca declarou falência e que apenas as empresas de casinos o fizeram.
Quando Trump saiu, as ações da TER valiam 23 centavos cada, tendo caído dos $14 que valiam apenas uma década antes.
As coisas nunca melhoraram muito para a TER. A empresa vendeu os seus ativos, como o Trump Castle (rebatizado como Trump Marina) em 2011, ou fechou propriedades por completo. Declarou falência novamente em 2014, no mesmo ano em que Donald Trump processou para que o seu nome fosse retirado dos hotéis devido ao seu estado de degradação. O Trump Plaza encerrou a 16 de setembro desse mesmo ano, e Carl Icahn, um investidor que detinha grande parte da dívida da empresa, assumiu o controlo do Taj Mahal. Ele fez um acordo com Trump no ínicio de 2015 para permitir que a empresa continuasse a usar a marca Trump.
O Taj Mahal era o único casino sobrevivente dos dias de glória de Trump, mas encerrou em 2016, já sob a alçada de Icahn.
O Mundo da Política
Após a eleição de Barack Obama, alguns extremistas de direita lançaram o “Movimento Birther”, liderado por Trump, acusando Obama de não ser realmente um cidadão Americano. Exigiram ver a sua certidão de nascimento, mas a prova de cidadania não impediu este grupo de continuar a criticar o presidente.
Percebendo que havia um número significativo de pessoas que se sentiam excluídas do processo político e descontentes com a situação em Washington DC, Trump começou informalmente a sua campanha presidencial no final de 2014. A maioria dos analistas políticos assumiu que ele concorreria como candidato de um terceiro partido e não tinha hipóteses de vencer, mas em Junho de 2015, ele anunciou a sua intenção de concorrer como republicano e declarou-se oficialmente candidato, liderando sondagens até ao final de 2015, um mês antes do início das primárias.
Posicionando-se como outsider, Trump referia frequentemente a sua perspicácia empresarial como uma razão para ser eleito. As suas dificuldades como magnata de casinos são frequentemente mencionadas quando ele apela ao seu estatuto de empresário.
No primeiro debate, Trump defendeu-se: "De entre centenas de negócios que fiz - centenas! - em quatro ocasiões, aproveitei-me das leis deste país, como outras pessoas... (...) O facto é que construí um património líquido de mais de 10 mil milhões de dólares. Tenho uma empresa muito boa. Emprego milhares de pessoas. E estou muito orgulhoso do trabalho que fiz... centenas e centenas de negócios, quatro vezes aproveitei-me das leis. E francamente, todos os outros na minha posição também o fizeram."
Os seus oponentes afirmaram que, embora Trump possa ser um estranho para a política como candidato, ele esteve intimamente envolvido com políticos e contribuiu para campanhas durante décadas. Jeb Bush, ex-governador da Flórida que concorreu contra Trump para a nomeação republicana, chegou ao ponto de dizer que Trump tentou usar a sua riqueza para influenciar os legisladores da Florida a suavizar as restrições dos casinos para que ele pudesse construir um lá. Por sua vez, a campanha de Trump afirmou que, embora a possibilidade de um casino na Florida tenha sido explorada antes de Bush se tornar governador, nada inapropriado aconteceu e o conceito foi abandonado antes de tomar forma real. No mesmo primeiro debate dos candidatos republicanos, Trump comentou sobre a sua saída do império dos casinos:
Tive o bom senso de deixar Atlantic City. Saí de Atlantic City antes dela explodir totalmente. E ganhei muito dinheiro em Atlantic City e estou muito orgulhoso disso”, disse Trump.
Trump derrotou os seus adversários republicanos e ganhou a nomeação oficial do partido. E após uma campanha árdua na eleição geral, Trump ganhou a presidência, derrotando a sua oponente Hillary Clinton e chegando à Casa Branca. Embora Trump tenha conquistado o maior número de votos no Colégio Eleitoral, Clinton venceu o voto popular.
O primeiro mandato de Trump foi tudo menos tranquilo, com várias controvérsias e até mesmo um impeachment à mistura. Donald J. Trump perdeu as eleições para Joe Biden em 2020, mas foi reeleito presidente dos Estados Unidos em novembro de 2024, tomando posse em janeiro de 2025. A sua presidência em 2025 tem sido marcada por novas controvérsias sobre potenciais conflitos de interesse, desta vez relacionados com ventures em criptomoedas, redes sociais e novos negócios imobiliários.
O Legado em 2025: Da Demolição ao Hard Rock
O Trump Plaza foi demolido em fevereiro de 2021, marcando simbolicamente o fim da era Trump em Atlantic City. A demolição utilizou 3.000 cartuchos de dinamite e deixou apenas escombros onde outrora se erguia um dos casinos mais emblemáticos da cidade.
O antigo Trump Taj Mahal foi transformado e reabriu como Hard Rock Hotel & Casino Atlantic City em junho de 2018, após investimento de $300 milhões. O casino funciona agora como uma propriedade moderna e rentável, contrastando com os problemas financeiros dos tempos de Trump.
Atualmente, não restam vestígios da marca Trump em Atlantic City. Todos os casinos que levaram o seu nome foram vendidos, fechados ou demolidos, representando o fim completo de uma era que prometia revitalizar a cidade.
Trump não permitiu que os casinos afetassem outras partes do seu império empresarial. Enquanto a subsidiária de jogos tinha os seus altos e baixos, Trump continuou a construir imóveis em Nova Iorque e viu o seu perfil público crescer por apresentar o programa da NBC, “The Apprentice”, uma competição entre jovens executivos (e posteriormente celebridades) para ganhar um emprego com Trump.
Ele continuou a comercializar o seu nome para promotores imobiliários externos e em diversas indústrias diferentes, incluindo restaurantes, campos de golfe e marcas de roupa.
Novos Horizontes Empresariais: Crypto e Médio Oriente
Embora o império de casinos tenha falhado, Trump diversificou os seus negócios na década de 2020. O seu património aumentou 2,9 mil milhões de dólares devido a investimentos em criptomoedas, incluindo o lançamento das moedas digitais $TRUMP e $MELANIA, bem como participações na World Liberty Financial.
A Trump Organization expandiu-se para o Médio Oriente com projetos no Dubai, Arábia Saudita e Qatar, aproveitando as relações diplomáticas estabelecidas durante a presidência. Estes novos empreendimentos levantam questões éticas semelhantes às dos tempos dos casinos, mas com alcance global muito maior.
Conclusão
A história dos casinos Trump em Atlantic City serve como estudo sobre ambição empresarial, timing de mercado e consequências de decisões financeiras arriscadas. Embora tenham falhado espetacularmente, Trump preservou riqueza pessoal e transformou-se em figura política dominante, demonstrando capacidade de reinvenção que marca toda a sua carreira.
O legado dos casinos continua a influenciar a perceção pública de Trump como empresário, lembrando que mesmo impérios aparentemente sólidos podem colapsar quando mal geridos ou enfrentam condições económicas adversas. Parece que é mais fácil saber como contar cartas blackjack do que abrir e manter negócios de milhões.
Originalmente publicado a 16 de Outubro de 2023
