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Sabe aquela sensação de estar sentado numa mesa de blackjack e o dealer começar a tirar blackjacks atrás de blackjacks, como se fosse magia? Nos anos 60, um discreto professor de matemática chamado Edward Thorp descobriu como inverter essa situação. No final, Edward O. Thorp assustou-os tanto que eles mudaram as regras do blackjack de um dia para o outro.

Isto não é a típica história de um pobre que enriquece. Thorp tratava os jogos de casino como problemas científicos, baseando-se em fórmulas em vez de palpites ou superstições. O seu trabalho transformou o blackjack de um jogo perdido à partida num jogo em que se podia realmente ganhar, desde que fosse inteligente o suficiente para seguir o seu sistema.

Mas quem foi Edward Thorp, e por que razão decidiu dedicar grande parte da sua vida a derrotar o blackjack? Continue a ler para saber tudo!

Crescer na Pobreza e Apaixonar-se pelos Números

Edward Thorp nasceu em Chicago em 1932, em plena Grande Depressão, uma época em que o dinheiro era extremamente escasso. Enquanto os pais lutavam para sobreviver, Ed desenvolveu cedo um interesse pela matemática e pela ciência, em grande parte graças ao pai, que lhe começou a ensinar matemática desde muito novo.

Aos 12 anos, obteve uma licença como operador de rádio amador, um dos mais jovens do país. Passou grande parte da adolescência a realizar experiências de química, comprando ingredientes a um farmacêutico local que lhos vendia ao preço de custo. Essa mistura precoce de independência e curiosidade ficou-lhe gravada e acabaria por moldar a forma como enfrentava problemas, até mesmo nas mesas de casino.

Enquanto a maioria dos jogadores entrava nos casinos à espera de um golpe de sorte, Thorp via puzzles matemáticos à espera de serem resolvidos.

O Caminho Académico até ao MIT

O talento matemático de Thorp acabou por o conduzir ao sucesso académico. Depois de concluir o doutoramento em Matemática em 1958, com uma tese intitulada Compact Linear Operators in Normed Spaces, Thorp obteve um lugar como Moore Instructor no MIT, onde lecionou entre 1959 e 1961.

No MIT, teve acesso a tecnologia de ponta, incluindo o IBM 704, um computador do tamanho de uma sala, considerado revolucionário na época. Aprendeu a programar em FORTRAN, uma competência que em breve se revelaria muito útil num projeto que ainda nem imaginava que viria a existir.

A Lua de Mel em Las Vegas que Mudou Tudo

Em 1958, pouco depois de terminar o doutoramento, Thorp levou a esposa, Vivian, a Las Vegas para a lua de mel. Como qualquer turista, decidiu tentar a sorte nas mesas de blackjack do casino. Mas, em vez de aceitar as perdas e ir jogar nas slot machines, algo despertou no cérebro do matemático: percebeu que o blackjack podia ser abordado como um problema matemático à espera de solução.

De volta ao MIT, com acesso ao poderoso IBM 704, Thorp começou a passar as noites a executar simulações de blackjack. Analisou milhões de mãos, usando o poder de processamento do computador para desenvolver o que se tornaria a base da contagem de cartas. Enquanto os colegas se dedicavam à investigação matemática tradicional, Thorp estava silenciosamente a revolucionar o jogo, criando um sistema para vencer o blackjack.

O Sistema Ten-Count que Abalou Vegas

Thorp desenvolveu o seu “Sistema Ten-Count” com base em rigorosa análise matemática. A beleza da descoberta estava na sua simplicidade: o sistema fazia os jogadores acompanhar as cartas de valor 10 (que contavam como -9) em oposição a todas as outras (que contavam como +4). Quando o baralho ficava rico em dezenas, devia apostar alto; quando se esgotavam, devia apostar baixo.

Isto não era um sistema místico de jogo vendido na TV Shop, mas sim pura matemática. E, de repente, o blackjack deixou de favorecer a casa e passou a dar uma ligeira vantagem (cerca de 1%) aos jogadores que seguissem o sistema corretamente. Para os casinos, habituados a imprimir dinheiro nas mesas de blackjack, era como descobrir que os clientes tinham acesso às chaves do cofre.

Quando o livro Beat the Dealer de Thorp chegou às livrarias em 1962, foi um sucesso imediato. Vendeu mais de 700 mil cópias e entrou na lista de bestsellers do New York Times. De repente, todo o aspirante a contador de cartas na América tinha um manual de instruções para vencer a casa.

mesa blackjack

Testar o Sistema com Dinheiro Real

Thorp precisava de dinheiro para testar as suas teorias, por isso associou-se a Emmanuel “Manny” Kimmel, um jogador profissional com alegadas ligações à máfia. Kimmel investiu 10.000 dólares, uma quantia considerável para a época, e ambos viajaram até ao Nevada para ver se a matemática e a nova estratégia de blackjack realmente funcionavam.

O primeiro fim de semana foi algo digno de se ver. Segundo relatos, em cerca de 30 horas de jogo em Reno e Lake Tahoe, transformaram esses 10.000 dólares em 21.000. No Harold’s Club, em Reno, Thorp ganhou 500 dólares nos primeiros 15 minutos.

O sistema funcionou exatamente como as simulações no computador tinham previsto. Mas a notícia espalhou-se rapidamente, e Thorp tornou-se persona non grata de mesa em mesa. Ele, no entanto, já estava preparado para isso.

O Mestre do Disfarce e o Café Suspeito no Casino

À medida que os casinos começaram a perceber quem era Thorp, ele transformou-se num verdadeiro mestre do disfarce. Passou a usar barbas postiças, óculos escuros, lentes de contacto para mudar a cor dos olhos e roupas diferentes, tudo para enganar os pit bosses. Mantinha notas detalhadas sobre quais disfarces funcionavam e quais os casinos que já o tinham banido. Mas os casinos não estavam dispostos a deixar que um professor de matemática lhes esvaziasse os cofres.

Com o passar dos anos, começaram a circular histórias sobre truques sujos usados para o intimidar ou afastar. Uma noite, no Dunes, Thorp terá alegadamente perdido a capacidade de contar cartas no blackjack depois de beber um café com açúcar e natas. Uma enfermeira que o acompanhava acreditava que os sintomas indicavam que ele tinha sido drogado.

Outra história contava que o acelerador do seu carro ficou preso numa estrada sinuosa de montanha, obrigando-o a reduzir e a usar o travão de mão para sobreviver. Um automobilista que passou no local afirmou que o mecanismo parecia ter sido deliberadamente sabotado.

Se estas histórias foram exageradas com o tempo ou baseadas em factos, é algo que nunca se soube ao certo. Mas contribuíram para o mito crescente de Thorp. O que é certo é que a pressão e o perigo foram suficientes para o levar a procurar formas mais seguras de ganhar dinheiro.

Como a Indústria dos Casinos Contra-Atacou

A primeira reação da indústria dos casinos foi puro pânico. Em abril de 1964, os casinos de Las Vegas fizeram algo inédito: mudaram as regras do blackjack de um dia para o outro. Restringiram severamente as dobras e abertura de pares, basicamente tentando tornar o jogo novamente impossível de vencer. Mas o tiro saiu-lhes pela culatra.

O número de jogadores caiu quase para zero. As pessoas simplesmente deixaram de aparecer, e em poucos meses os casinos foram obrigados a restaurar as regras originais.

A resposta a longo prazo foi muito mais inteligente. Os casinos abandonaram os jogos de um só baralho e começaram a usar shoes com múltiplos baralhos, tornando a contagem de cartas muito mais difícil. Passaram a baralhar antecipadamente quando a contagem se tornava favorável, investiram milhões em sistemas de vigilância e criaram bases de dados para identificar jogadores de vantagem.

Mas os casinos foram ainda mais longe e, hoje, usam máquinas que baralham as cartas de forma contínua, fichas com tecnologia RFID para rastrear todas as apostas e software de reconhecimento facial. Pense bem: tudo isto por causa do que um professor de matemática fez nos anos 60.

Para Lá do Blackjack: O Primeiro Computador Vestível do Mundo

Edward Thorp não parou depois de dominar o blackjack. Em colaboração com Claude Shannon (o pai da teoria da informação), construiu, em 1961, o primeiro computador vestível do mundo.

O dispositivo, do tamanho de uma caixa de cigarros e usado no sapato, era controlado pelos dedos dos pés e permitia prever os resultados da roleta ao medir a velocidade da bola e da roda. O sistema dava-lhes uma vantagem astronómica de 44% sobre a casa, algo sem precedentes. O MIT reconhece oficialmente este aparelho como o primeiro computador vestível da história, décadas antes de alguém ouvir falar de smartwatches, Google Glass ou Apple Vision.

Eventualmente, o estado do Nevada proibiu o uso de qualquer dispositivo eletrónico nos casinos, com uma lei dirigida especificamente a “dispositivos de blackjack e roleta”.

mão blackjack

Da Contagem de Cartas aos Milhões de Wall Street

Embora os ganhos de Thorp nos casinos tenham sido impressionantes para a época, não lhe mudaram a vida. A verdadeira fortuna veio quando aplicou os mesmos princípios a Wall Street. O património líquido de Edward Thorp é hoje estimado em cerca de 800 milhões de dólares, acumulados ao longo de décadas a gerir hedge funds que registaram rendimentos anuais de 20%.

O seu fundo de investimento Princeton/Newport Partners operou durante 19 anos sem um único ano de prejuízo, aplicando as mesmas teorias de probabilidade e estratégias de gestão de risco que Thorp tinha desenvolvido para o jogo. Ele percebeu que os mercados financeiros eram, essencialmente, “o maior casino do mundo”, mas com melhores probabilidades e sem pit bosses prontos a drogar-lhe o café.

Porque é que o Trabalho de Thorp Ainda Importa

Com 92 anos, Thorp continua lúcido e ainda partilha reflexões sobre jogo e investimento. Foi incluído no Blackjack Hall of Fame em 2002, como um dos primeiros membros, um reconhecimento formal do seu papel na criação do jogo de vantagem (advantage play). A sua abordagem ao jogo mudou tudo. Mostrou que matemática sólida, combinada com disciplina, podia vencer sistemas concebidos para favorecer a casa.

E essa ideia continua válida: encare o jogo como um problema a resolver, gira o risco e nunca se esqueça de que os casinos estão lá para ganhar.

Thorp provou que, por vezes, é possível vencer a casa, não com sorte, mas com lógica. O seu legado está em todo o lado: nos guias de estratégia, nas salas de vigilância dos casinos e nos jogadores que se sentam à mesa com um plano, não apenas um desejo.

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