Aviso: O conteúdo aqui apresentado tem uma finalidade exclusivamente informativa sobre um tipo específico de jogo e como jogá-lo. O objetivo deste conteúdo não é nem promover nem disponibilizar um tipo de jogo, mas simplesmente informar o jogador acerca de como jogá-lo.


Entre em praticamente qualquer casino, em quase qualquer lugar do mundo, de Atlantic City a Monte Carlo ou Macau, e verá jogadores por todo o lado, todos a fazerem o mesmo. Jogam os mesmos jogos, seguem as mesmas regras e, no geral, divertem-se imenso.

Alguns podem ganhar, a maioria vai perder, e o casino lucrará numa percentagem esperada. Na maioria dos casos, estas pessoas são jogadores recreativos, em busca de diversão e de uma boa aposta. Os diretores de casino adoram-nos.

Entre aqueles que procuram apenas a emoção estão os poucos, um em alguns milhares, que vão atrás de algo mais do que simples diversão. São os jogadores de vantagem, pessoas que aprenderam ou desenvolveram estratégias para vencer legalmente os jogos de casino que desfalcam praticamente todos os outros. Quer estejam a jogar blackjack, poker de 3 cartas ou baccarat, os jogadores de vantagem têm as suas formas de ganhar. Os diretores de casino olham para eles com desdém.

Ao longo da escrita do meu novo livro Advantage Players, passei tempo com alguns dos jogadores profissionais mais temidos e talentosos do mundo.

Aqui fica uma introdução a três dos melhores APs [= Advantage Players] (como os jogadores de vantagem gostam de ser chamados) e ao que estes mestres da estratégia fazem para derrotar os casinos nos seus próprios jogos.

Se este artigo lhe interessa, continue a ler. Em alternativa, explore outros tópicos como melhor estratégia para roleta e como jogar roleta.

O GOAT dos Jogadores de Vantagem

Entre as pessoas que enfrentam os jogos de casino, James Grosjean está no topo da pirâmide. Ele dominou tantas formas de vencer jogos que publicou um livro raro chamado Beyond Counting, considerado a bíblia dos APs, repleto de estratégias minuciosamente explicadas para bater o baccarat, o blackjack e uma série de jogos que ele gosta de chamar de “jogos de feira”.

Quando lhe perguntei o que o levou a publicar um livro que expunha os seus segredos para vencer, Grosjean quase entrou no gozo ao responder: “Acha que esse é o meu único livro?”

A mensagem era clara: ele tem material suficiente para escrever muitos livros de técnicas capazes de derrotar as armadilhas dos casinos. O público, claro, nunca as verá.

Grosjean começou a dedicar-se seriamente à contagem de cartas durante o mestrado em Chicago. Numa noite, num dos casinos da zona, deparou-se com o que se chama um hole-card game. A dealer distribuía inadvertidamente as cartas de forma a mostrar repetidamente a sua carta escondida. Grosjean ficou agradavelmente chocado, entusiasmado com a rentabilidade de saber o que o dealer tinha na mão, e ganhou mais dinheiro do que alguma vez poderia ter imaginado.

Pouco depois, abandonou uma carreira em Wall Street, onde poderia ter aproveitado o seu diploma de Harvard em matemática aplicada. Em vez disso, concentrou-se em derrotar jogos de casino. O seu génio está na capacidade de criar técnicas originais para o fazer. Usa programação informática aliada a um talento especial para planear como não ser apanhado a exercer a sua arte. É totalmente legal, claro, mas os casinos detestam perder e tratam de mostrar onde é a porta de saída aos jogadores com vantagem.

Este jogador astuto passa a vida a viajar pelo mundo, apresentando-se como um discreto low roller (manter um perfil baixo é essencial para Grosjean) e dando sinais aos big players (ou seja, outros que fazem apostas altas) sobre jogadas concebidas para derrotar a casa. Tendo eu próprio servido como BP (sim, neste meio gostam de siglas) para Grosjean, posso garantir-lhe que as suas jogadas decorrem de forma impecável e lucrativa.

Quanto a onde poderá estar o itinerante James Grosjean em determinado momento, é difícil saber. Uma vez liguei-lhe enquanto estava na estrada, entre casinos. Quando lhe perguntei onde se encontrava, respondeu de forma enigmática: “Sou um alvo em movimento.”

mesa de blackjack

O Homem Que Viveu em Grande e Derrotou os Grandes Jogos

Enquanto os jogadores de vantagem sérios costumam adotar a abordagem de James Grosjean, ou seja, evitam usar cartões de jogador, ficam em motéis de beira de estrada, preferem que os diretores de casino os vejam como anónimos que apostam o mínimo possível, Don Johnson é algo completamente diferente.

Em 2011, foi notícia ao atingir em cheio os lucros do Tropicana, um dos casinos mais antigos de Las Vegas. Ganhou 6 milhões de dólares ao casino contando cartas e aproveitando uma promoção, utilizando ainda uma estratégia de blackjack que incluía regras favoráveis, generosos reembolsos e fichas no valor de cinco dígitos só por entrar pelo casino dentro. Quer quisesse ou não, Johnson foi revelado como AP.

Mas sendo um jogador de vantagem de raiz, que continua a ganhar a maior parte do seu dinheiro através de uma equipa de corridas de cavalos que usa um modelo computacional de probabilidades para arrecadar muitos milhões nas pistas, não deixou que nenhum obstáculo se colocasse entre ele e a vitória.

Johnson não só ultrapassou esse obstáculo, como o explorou e destruiu. Parecendo um tipo que ganhava apenas por sorte, Johnson construiu a reputação de ser o jogador mais festeiro do mundo.

Depois de gastar fortunas em serviço de garrafas nos clubes noturnos dos casinos (naturalmente, tudo oferecido pelos próprios casinos), aparecia na sua mesa privada acompanhado por um vistoso séquito vindo do clube. Johnson usava alguns deles como card eaters (jogadores que consomem cartas enquanto faziam pequenas apostas em contagens baixas), e todos como grandes distrações.

Sinalizado por jogadores de vantagem experientes que pareciam apenas membros aleatórios do grupo, Johnson ganhou somas incalculáveis antes de seguir para a próxima diversão, deixando os diretores de casino a tentar perceber o que tinha acontecido às suas fichas de grande valor.

Don Johnson

A Máquina do Baccarat

Normalmente, o mini baccarat (ou Ponto e Banca, como é conhecido nos casinos em Portugal) é visto como um jogo impossível de explorar. Afinal, os jogadores nem sequer tocam nas cartas. Mas, ao executar uma jogada que um AP de alto nível me descreveu como “magnífica e engenhosa”, Cheung Yin “Kelly” Sun, também conhecida como a “Máquina do Baccarat”, conseguiu encontrar uma vantagem que resultou em dezenas de milhões de dólares em lucros.

Após um conflito com um casino de Las Vegas, no qual tinha perdido grandes somas em jogos que incluíam baccarat, Sun concebeu uma técnica brilhante. Tudo começou quando aprendeu a ler pequenas inconsistências nos padrões superior e inferior das cartas de jogo. É uma técnica conhecida como edge sorting.

A estratégia genial de Sun surgiu quando convenceu os dealers a rodar as cartas para ela, de modo a que cartas-chave do jogo (7, 8 e 9) pudessem ser identificadas por Sun antes mesmo de serem retiradas do sapato de distribuição.

Em colaboração com o grande jogador de poker Phil Ivey, ganhou o suficiente para ser reconhecida como uma das maiores jogadoras de vantagem do mundo. Juntos, obtiveram lucros em salas de apostas de alto limite em todo o mundo.

Contudo, como acontece com muitas jogadas de grande sucesso e altos retornos, esta não durou para sempre. Eventualmente, os casinos aperceberam-se dos métodos de Sun. Mas ela ainda assim saiu por cima. Depois da sua jogada brilhante perder eficácia, Kelly Sun vendeu os direitos da sua história de vida a Hollywood.

Um filme baseado na sua aventura nos casinos, com Awkwafina no papel de Sun, está em produção. Esse pode muito bem revelar-se a sua jogada de vantagem mais duradoura de todas.

Michael Kaplan é um jornalista sediado em Nova Iorque. Michael tem escrito exaustivamente sobre o tópico de jogo para publicações como a Wired, Playboy, Cigar Aficionado, New York Post e New York Times. É o autor de quatro livros que incluem o Aces and Kings: Inside Stories e Million-Dollar Strategies from Poker’s Greatest Players.

Quando o tempo o permite, também costuma jogar um pouco.