Aviso: O conteúdo aqui apresentado tem uma finalidade exclusivamente informativa sobre um tipo específico de jogo e como jogá-lo. O objetivo deste conteúdo não é nem promover nem disponibilizar um tipo de jogo, mas simplesmente informar o jogador acerca de como jogá-lo.
Philip Dennis Ivey Jr. representa um caso fascinante no mundo dos casinos. Nascido em 1977 em Riverside, Califórnia, e criado em Roselle, Nova Jérsia, Ivey desenvolveu uma compreensão profunda dos aspetos matemáticos e psicológicos dos jogos de sorte e azar que transcende o jogo tradicional.
A maioria das pessoas conhece-o como um dos melhores jogadores de poker de todos os tempos. Com 11 braceletes das World Series of Poker, é difícil contestar a sua reputação. Mas a relação de Ivey com os casinos não se resume ao poker. Com o tempo, ele percebeu que podia aplicar a sua abordagem técnica ao poker noutros jogos de casino. Essa mudança tornou-se um ponto de viragem na sua carreira, abrindo-lhe caminho para explorar jogos com probabilidades e vantagens da casa completamente diferentes.
A sua história, no entanto, não se resume a full houses e royal flushes. Trata-se, sobretudo, do que acontece quando o instinto puro e a técnica se cruzam com o mundo altamente controlado do jogo de casino. Ivey descobriu como também jogar esse jogo maior.
Phil Ivey – O Nascimento de um Jogador de Elite
A história de Ivey como jogador profissional começou de forma pouco convencional. Em meados da década de 1990, com apenas 16 anos, usou um cartão de identificação falso para entrar nos casinos de Atlantic City. Embora isso fosse legalmente questionável, garantiu-lhe uma exposição precoce ao ambiente dos casinos, estabelecendo as bases para aquilo que viria a ser uma carreira lendária no mundo do jogo.
Durante essas sessões clandestinas nas mesas de poker de limites baixos, Ivey desenvolveu uma perceção apurada das probabilidades em tempo real, ao mesmo tempo que observava padrões de comportamento. Avaliava cada jogada não pelo resultado imediato, mas pela sua expectativa matemática a longo prazo.
Rapidamente, essas incursões nas mesas de cash games transformaram-se em sucesso nos torneios de poker. Em 2000, com 23 anos e já a jogar legalmente, Ivey participou pela primeira vez nas World Series of Poker. A sua estreia garantiu-lhe três lugares premiados, duas mesas finais e uma vitória no evento $2,580 Pot Limit Omaha, arrecadando $195,000 e a sua primeira bracelete.
Como Ivey se Tornou num dos Jogadores de Poker Mais Temidos de Sempre
Essa primeira bracelete foi apenas o início de algo grandioso. Ao longo dos 20 anos seguintes, Ivey construiu o tipo de carreira com que a maioria dos jogadores apenas sonha: 11 braceletes WSOP, milhões ganhos em cash games nosebleed e uma reputação que fazia até os profissionais mais experientes pensarem duas vezes antes de se sentarem na sua mesa.
O que realmente o distingue, no entanto, é a forma como combina um pensamento matemático apurado com um instinto que simplesmente não se pode ensinar. Enquanto muitos jogadores dominam apenas um desses aspetos, Ivey conseguiu dominar ambos.
Esse equilíbrio não só o tornou numa lenda do poker, como também lhe deu as ferramentas para expandir o seu talento para outros jogos de casino, onde ler probabilidades e gerir o risco são igualmente imprescindíveis.
Embora o poker tenha sido o jogo que lhe deu nome, outros jogos tradicionais de casino acabariam por se tornar importantes mais tarde. Recordando esses primeiros anos no livro Deal Me In, Ivey escreveu: “Ficou óbvio muito cedo que [eu] tinha um dom quando se tratava de jogo.”
Phil Ivey Passa para o Jogo de Casino de Altas Apostas
Depois de dominar o poker, Ivey fez algo que poucos jogadores conseguem fazer: aplicou a mesma disciplina mental e análise matemática noutros jogos de casino. E não foi uma transição casual, mas sim uma expansão calculada das suas competências.
A Paixão pelo Baccarat
A certa altura, Ivey começou a interessar-se pelo baccarat, e é fácil perceber porquê. Para alguém habituado a calcular pot odds e a ler adversários, a simplicidade do baccarat deve ter sido refrescante: regras claras, resultados binários e uma vantagem da casa que não é brutal. Mais importante ainda, é um jogo em que a concentração e a disciplina, duas das maiores virtudes de Ivey, fazem toda a diferença.
As sessões de baccarat de Ivey tornaram-se lendárias entre os high rollers. Estamos a falar de apostas únicas de centenas de milhares de dólares, sessões que duravam dias, e uma abordagem ao jogo que impressionava até os dealers mais experientes. Ele não jogava por impulso ou emoção. Cada aposta era um cálculo feito com frieza.
O que distinguia Ivey de outros high rollers não era o tamanho das suas apostas, mas a forma como abordava cada sessão. Enquanto muitos jogadores viam o casino como uma forma cara de entretenimento, Ivey encarava-o como mais uma arena onde podia sobressair.
Jogadores que o viram jogar baccarat descrevem sessões em que conseguia manter-se concentrado durante 15 a 18 horas consecutivas, registando mentalmente padrões e anomalias com detalhe. A sua capacidade superior de concentração, desenvolvida nas mesas de poker, revelou-se inestimável nas mesas de baccarat.
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Quando a Habilidade se Torna Problemática: as Batalhas Legais
Por vezes, no entanto, ser demasiado bom no que se faz pode tornar-se um problema. Ivey percebeu isso quando as suas técnicas o levaram a tribunal em dois continentes diferentes.
A saga começou em 2012, quando Ivey e a sua parceira Cheung Yin “Kelly” Sun iniciaram uma série de sessões de baccarat que ficariam para a história. Entre abril e outubro de 2012, fizeram quatro viagens ao Borgata Casino, em Atlantic City. Quando terminaram, tinham arrecadado $9,6 milhões em ganhos, graças a uma técnica conhecida como edge sorting.
A ideia era simples, pelo menos teoricamente: eles identificavam pequenas imperfeições no verso das cartas e usavam-nas para deduzir que cartas estavam prestes a sair.
O par não marcou nem alterou fisicamente as cartas. Apenas pediu ao dealer que virasse certas cartas de uma forma específica. Um pedido perfeitamente legal que muitos casinos aceitam vindo de high rollers. O problema surgiu quando o casino percebeu que esses pedidos aparentemente inofensivos faziam parte de um sistema sofisticado.
Em agosto do mesmo ano, Ivey utilizou o mesmo método no Crockfords, um dos casinos mais prestigiados de Londres, ganhando £7,7 milhões. Ao contrário do Borgata, o Crockfords recusou pagar os ganhos, suspeitando de batota, o que levou Ivey a processar o casino em 2013, alegando que os seus métodos eram legítimos.
Enquanto o Borgata tinha pago os ganhos de imediato, após se saber que Ivey e Sun estavam a usar edge sorting, o casino levou o caso a tribunal, exigindo a devolução de todos os ganhos de Ivey, mais as compensações e uma estimativa do que o casino teria ganho em condições normais, totalizando $15,6 milhões.
Os tribunais tinham em mãos uma questão fascinante: Ivey tinha ou não feito batota? Tecnicamente, Ivey e Sun não manipularam nada. Apenas usaram a informação disponível através de observação atenta e pedidos legítimos.
Em 2014, um juiz Britânico determinou que, embora Ivey acreditasse genuinamente que as suas ações eram legítimas, estas constituíam batota segundo a lei civil. Nos EUA, o tribunal ordenou que Ivey devolvesse $10,1 milhões ao Borgata por violar a Casino Control Act de Nova Jérsia. Após seis anos de batalhas legais, ambos os casos foram encerrados em 2020 com um acordo confidencial.
Se quer saber mais sobre este tipo de jogadas de vantagem, leia o nosso artigo dedicado aos maiores jogadores de vantagem de sempre.
O Legado de Phil Ivey na Cultura dos Casinos
Ivey deixou uma marca que vai muito além dos números. Após o escândalo amplamente divulgado de edge sorting, os casinos e fabricantes de cartas reforçaram significativamente as suas medidas de segurança e aperfeiçoaram os seus métodos.
A verdade é que Ivey obrigou toda uma indústria a evoluir. Provou que até as propriedades mais sofisticadas podiam ser vulneráveis a jogadores com capacidades analíticas excecionais.
Criou-se assim uma dinâmica curiosa, em que os casinos procuram atrair os mesmos jogadores de elite que, ao mesmo tempo, vigiam de perto. Phil Ivey acabou no centro dessa tensão: valorizado pela atenção que trazia, mas também visto com desconfiança sempre que jogava.
Tornou-se, de certa forma, um símbolo desse paradoxo. Por mais infalíveis que os sistemas pareçam, há sempre alguém suficientemente perspicaz para encontrar uma falha. Talvez seja precisamente por isso que as pessoas continuam a ir aos casinos. Não se trata apenas do dinheiro, mas da ideia de que a casa nem sempre tem de ganhar.
** Imagem principal cortesia da PokerGO
